terça-feira, agosto 17, 2010

O saco inchado

Há pessoas que transportam uma carga com elas, como se fôsse um saco que transportam às costas... Na verdade, acho que todos nós o transportamos.

Uns com sacos maiores, outros mais pequenos, mais vazios, mirrados...Mas há aqueles que têm sacos enormes, uns pesados, outros leves mas inchados, e outros, como o da minha amiga, é enorme, de tal maneira que o seu peso se faz sentir nos outros, e todos são afectados por ele...Não é uma carga má, pelo contrário, está cheio de energia positiva, tanta, tanta, que transborda, e de tal maneira que cai no saco dos outros, enchendo-o também um pouco...e isso não deixa de ser lindo...

Eu gosto da carga dela, tráz-me alegria, mas ao mesmo tempo é tanta que me impede de sentir, de ter vontade de transmitir ou até de interagir...fico só a escutar...e é bom escutar, porque é tudo lindo...mas isso faz-me esquecer a beleza que eu também transporto na minha carga, faz-me querer fechar o meu saco para que as histórias dela não se misturem com as minhas, para conservar o que fui recolhendo do mundo...e até já me apercebi que a força de tudo o que ela transporta abafa o som que as minhas palavras possam produzir, torna-as apenas mais umas iguais a tantas outras silenciosas ao seu redor...

...Eu até quero partilhar o que ele trás, quero que o vejam, mas não o consigo fazer se o peso do saco dela fechar a abertura do meu...

quinta-feira, agosto 05, 2010

Jantarada

Quando cheguei já ela ia a meio da garrafa de vinho tinto que tinha comprado no pingo doce...
- Caramba, já vais assim?
- Epá não digas nada...hoje é dia de festa..
- De festa? Então e o que festejamos nós?
- A morte do artista!
- Realmente ai está um bom motivo para festejar... e é só com vinho que se festeja nesta casa?
- Não..ia-te fazer um souflé, mas não tenho farinha...ás vezes o problema de falta de ingredientes pode ser um grande impedimento para uma receita perfeita!
- E porquê que não me pediste?
- Tentei...mas sabes quando ligas e chegas à conclusão, antes mesmo do outro atender, que não vale a pena?
- Sim, já me aconteceu, mas acho que vale sempre a pena tentar, afinal, não sabes se a outra pesso ainda te pode conseguir ajudar...
- É verdade...mas achei que não valia a pena...preferi seguir a festa com o que tinha e tentar fazer disso o nosso petisco!! Não ficará fantástico, na verdade nem te sei dizer se estará bom, pois não experimentei...
- Não te preocupes, como dizem, o que vale é a intenção!!
- Humm...não sei se me convences...isso é tudo muito giro em teoria, mas na verdade as coisas não funcionam assim...
- Epá não digas isso...mesmo que eu achásse que o souflé seria mil vezes melhor do que o que preparaste eu vou sempre ficar contente com o que conseguiste fazer só para me receber aqui!
- Ya, mas sabes quando sabes que podias ter algo melhor, que podias fazer algo melhor e no final apenas tens algo igual ao que te oferecem todas as outras pessoas?
- Sim, é verdade, tudo o que é demais enjoa, mas por outro lado o que é dado de bom grado...bolas, tem muito valor!!...é como quando alguém só diz a verdade...sabes quando ás vezes uma mentira simpática sabe bem ouvir, mas tu na verdade preferias era a verdade apesar de doer?
- Humm...sei onde queres chegar, mas sabes, tenho a sensação de que a verdade faz doer tanto como a descoberta dessa mentira piedosa, mas como é a verdade toda a gente acha que é melhor, mesmo que doa...a minha pergunta é: Será que eu prefiro sentir a dor todas as vezes que oiço a verdade, e que sei que não estou a ser enganada e agradeço por isso e aceito a dor que sinto todas as vezes que oiço a verdade ou preferirei eu ser enganda com mentiras piedosas até ao momento em que de uma vez só sei que tudo era mentira e que a realidade é outra? Não sei se prefiro saber a verdade todos os dias, em todos os momentos, se sabê-la toda de uma vez, no dia em que fizer sentido sabê-la!
- Epá...mas isso vai fazer com que um dia aches que viveste sempre uma ilusão...eu cá prefiro a verdade...custa, mas pelo menos sabes sempre com o que contas, não te iludes, não te magoas...
- Como não te magoas!?!? Magoas-te à mesma, mas aos bocadinhos, até ao dia em que te cansas ou em que aceitas e vives sempre com aquela amargura de que não tiveste nem um momento de ilusão na tua vida, em que não tiveste um dia em que tenhas sentido que tiveste a realidade que querias, mesmo que um dia venhas a saber que não foi verdade...até porque, se pensares bem, as pessoas têm sempre dificuldade em aceitar a realidade...se um dia me dissésses que tudo não tinha passado de uma mentira piedosa eu iria sempre achar que no fundo, no fundo algo de verdade aquela mentira devia ter, nem que fôsse pelo facto de me teres poupado por gostares um bocadinho que fôsse de mim...
- Sim, mas por gostar de ti é que te digo a verdade todo o tempo, mesmo que doa...
- Preferes ver a minhas lágrimas de desgosto dia-a-dia do que apenas uma vez uma tempestade de choro e dor...
-Sim...prefiro, porque as tuas lágrimas um dia irão secar, ou então tu vais perceber o que queres...se é ficar com esta verdade ou ir à tua vida...
- Isso é verdade...na ilusão acharás sempre que estás bem e não tens de mudar...
- Ora pois!!
- Humm...bem, então se calhar o melhor é não te iludir e avisar desde já que o jantar não é nada de especial...
- Na boa...de qualquer maneira acabaria por descobrir...

La estraña pareja

Eran conocidos en las calles del barrio,
conocidos en todos los bares y tabernas.
Él tan serio, tan alto, tan pálido y delgado,
ella morena y frágil, tan graciosa y pequeña.
Él rondaba, más o menos, los cincuenta,
y ella debía tener no más de veinticuatro.
Él daba clases, creo, en alguna academia,
y ella estudiaba, creo, un curso de italiano.
Bebían y se amaban, o eso parecía,
discutían a veces, a veces sonreían,
se besaban y odiaban, pero nadie es perfecto,
el amor es difícil y extraño en estos tiempos.


La noche debilita los corazones,
noches de funeral, de vino y rosas.
Brindemos por el amor y sus fracasos,
quizás podamos escoger nuestra derrota.
El sol limpia las calles, la memoria,
feroces pasiones atenúa.
Invéntate el final de cada historia,
que el amor es eterno mientras dura.


Él entró una noche en el bar de costumbre,
iba vestido todo de riguroso luto,
venía borracho y solo, traía el gesto serio,
y en las manos una corona de difuntos.
Ella le había dejado, nos explicó sereno,
y había decidido considerarla muerta,
y brindar por su olvido y su descanso eterno,
y celebrar su entierro de taberna en taberna.
Así que allá nos fuimos, y para qué contaros:
vasos, vinos y risas, alguna vomitona,
abrazos de amistad, eterna aquella noche.
Requiescat y brindemos por ella y su memoria.

La noche debilita los corazones,
noches de funeral, de vino y rosas.
Brindemos por el amor y sus fracasos,
quizás podamos escoger nuestra derrota.
El sol limpia las calles, la memoria,
feroces pasiones atenúa.
Invéntate el final de cada historia,
que el amor es eterno mientras dura.


Al salir de El Almendro ya iba muy borracho,
se cayó en el asfalto y me incliné a su lado.
Supe que estaba muriéndose de golpe,
dijo algo en mi oído, se deshizo en mis brazos.
Se lo llevó la ambulancia con su corona y todo,
y yo me fui a cumplir con su encargo maldito.
Llegué hasta el bar que él me había indicado
y busqué a la muchacha entre el humo y el ruido.
Por fin la vi, bailaba muy despacio,
refugiada en el cálido pecho de un muchacho.
Le conté, me escuchó, se abrazó a su pareja.
Yo no sé si lloró, no se veía apenas.


La noche debilita los corazones,
noches de funeral, de vino y rosas.
Brindemos por el amor y sus fracasos,
quizás podamos escoger nuestra derrota.
El sol limpia las calles, la memoria,
feroces pasiones atenúa.
Invéntate el final de cada historia,
que el amor es eterno mientras dura.



By Ismael Serrano

segunda-feira, agosto 02, 2010

Final kiss

what you feel only matters to you...it's what you do to others that counts!