quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Patas arriba

Naquele dia ela acordou triste...mal os primeiros raios de sol lhe tocaram o rosto deixou de conseguir manter os olhos fechados, ao contrário dos dias anteriores, em que se deixava ficar na cama meio dormente de cansaço e sono.

Nessa manha uma tristeza a sufocava apesar de ter ido para a cama em paz, apesar de ter feito amor com ele como nunca antes tinha feito e de lhe ter esvaziado os seus receios...talvez por isso tenha acordado triste, talvez por isso as músicas que a tinham ajudado a adormecer e que pertenciam aos dois, esta manha lhe traziam nao o amor, nao a alegria, mas sim a saudade...

Levantou-se e seguiu para a casa de banho, onde começou mecânicamente a tratar de si, e só já dentro da banheira é que se apercebeu que estava escuro, e que apenas a luz que entrava pela janela iluminava o espaço. Estranhou...pensou que a lâmpada se tivésse fundido e que tinha a certeza que estava acesa quando estava a lavar os dentes...

Mesmo assim, na luz ténue, ligou a água e deixou-se lavar pelo seu quente...foi nesse momento que percebeu o nó que tinha na garganta, e que lhe apertava a alma...sentiu a solidao...sentiu-se vazia, perdida...

Quando saiu do banho tentou ligar a luz, e esta acendeu e aí apercebeu-se de que tinha sido ela que a tinha apagado enquanto estava inundada pela sua estranha melancolia...e perguntou-se como foi possivel nao se dar conta dos seus gestos...

Ao longo do dia vários foram os amigos que lhe perguntaram porque estava tao triste?
Tentou por varias vezes esconder a sombra que carregava no rosto com um sorriso mal cosido nos lábios...

Ao fim do dia, já no regresso a casa é que se apercebeu do que estava a fazer a si mesma, e de como nao se podia dar ao luxo de cair na tristeza...só ao fim do dia e sem motivo aparente, sem que ninguém tivésse acendido o botao da sua consciencia é que percebeu as palavras dele, e do quadro que tinha tido durante toda uma semana à sua frente e cuja frase lhe estava sempre na memória sem que verdadeiramente se tivésse deixado influenciar pelo seu significado.

Só aí é que percebeu que o passado feliz nao se pode tornar num presente infeliz, por ter passado...mas sim na certeza de que tocamos a felicidade muitas vezes e que essa felicidade está gravada em nós e nao se pode transformar em tristeza, em solidao, ou em saudade, mas sim na força que nos faz sorrir por a termos vivido e sentido, e por nos fazer sorrir cada vez que a recordamos e que temos consciencia de que está guardada em nós!

...E entao finalmente o nó que tinha a prender-lhe a alma se soltou, e finalmente sorriu com vontade enquanto olhava a rua e as pessoas que passavam...só ai compreendeu melhor a sorte de ter vivido o passado e de o poder continuar a levar consigo no presente, e sentiu vontade de sorrir...e as músicas que a tinham ajudado a adormecer e que esta manha lhe trouxeram saudade, voltaram a trazer-lhe o seu amor, e a alegria de o ter sempre consigo.

"As veces se me ocurre que la tristeza no es mas que la alegria patas arriba"

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

...

As vezes ha palavras que preferimos calar dentro de nos para que nao se tornem realidade.
Sabemos perfeitamente que nao ha como escapar as consequencias das nossas escolhas.

Eu tenho sempre a sensacao de que dizer as coisas e meio caminho andado para as tornar realidade...dizer: Eu Vou!....ou Eu posso!...ou mesmo Eu consigo! e meio caminho andado para conseguirmos efectivamente realizar a nossa vontade...mas desta vez prefiro calar-me e nao dizer o que sei...na esperanca de que nao acabe e se estique ate ao dia em que talvez o possa reaproveitar, como ate a bem pouco tempo o fiz...

neste momento quase lamento a minha escolha...quase quero deitar tudo p o ar...quase...quase...

...que belas brincadeiras o destino nos prega...

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

no need to say goodbye...



...está a cortar um bocadinho o texto...but you get the point!! ;)

Bagagem

A vida é feita de muita coisa...mas a principal coisa que retiramos dela, são as nossas experiências, e as pessoas que nos tocaram e nos modificaram.
Gosto de olhar p trás e ver que fui feliz, que sou feliz, que a história que escrevi até agora me agrada e que acima de tudo trago do meu passado muita coisa boa para o presente e para o futuro...muita coisa que me tornou no que sou...

As despedidas nunca me afectaram muito...sempre me afastei sem olhar uma vez sequer p trás, porque sempre achei que para a frente é que está o meu caminho, e o que ficou para trás não é para largar tristemente, mas para guardar e levar connosco para todo o lado. Não sou saudosista, nem gosto de me agarrar ao que já foi, mas gosto de guardar as coisas e saber que cada uma guarda uma história, uma pessoa, uma memória...talvez por isso não consiga deixar de trazer objectos das minhas viagens, em vez de roupa ou grandes adereços...talvez por isso me custe deixá-los à merçê de quem ocupe a minha casa, pois essas pessoas não conhecem as histórias, não ouvem as suas memórias e aquilo que contam sobre vários momentos do meu passado.

Hoje estou de novo em ponto de mudança, daqui a 7h horas estarei no aeroporto com uma mochila que de certeza pesará mais do que deve, mas que terá na história da sua composição, a lembrança das pessoas com quem falei esta noite enquanto a fazia, as lembranças das últimas horas nesta casa que tanto me custou a "construir", mas acima de tudo de tudo o que vivi nestes três anos em Portugal. Foram longos e no entanto tão curtos... dolorosos e no entanto felizes...pesados e afinal tão ligeiros...e agora, com o que estes três anos me ofereceram parto com a bagagem cheia do que sou e do que toda a gente que tive por perto me tornou...Mas tenho de admitir que desta vez parto com dificuldade e despedida afecta-me mais do que imaginei... será velhice?

Seja como fôr, tenho de dizer...
Estou feliz por te ter conhecido, mesmo que por um breve tempo...
Estou feliz por te ter reencontrado, depois de todo este tempo...
Estou feliz por nunca me teres largado, e esperado tanto tempo...
Estou feliz por te ter sempre por perto, e de ter tido tempo para te viver novamente, reconhecer-te na multidão e apertar os laços que nos unem e sempre unirão...
Estou feliz por me teres abraçado, beijado, tocado e sussurrado ao ouvido as palavras doces que precisava de ouvir...
Estou feliz por te ter feito sorrir, por me teres ouvido, por me teres enxugado as lágrimas que não consegui guardar...

Gosto de ti...e levo-te comigo para onde fôr...