quinta-feira, janeiro 29, 2009

O abraço de Klimt




















Lindo e sentido como todos os quadros do artista...haverá coisa melhor do que um abraço profundo...

Ser transparente...

As dúvidas são sombras que nos toldam a vista quando menos esperamos...carregam em si pontos de interrogação e experiências passadas que mais ninguém conhece, mas que nos ficam a passear na mente e nos impedem de avançar.

A mente encerra todo um mundo de fantasias, experiências, emoções, pensamentos e dúvidas que mais ninguém conhece senão quem passou por isso. Ás vezes surpreendemo-nos das reacções das pessoas, ou de atitudes ou palavras que revelam pensamentos que seriam impensáveis em determinadas pessoas...

Existe uma personagem que todos nós encarnamos, e com a qual todos nos identificam, e que quando revelada é questionada ou apontada como apenas um momento, e esperam calmamente que a personagem que conhecem volte novamente a ser quem era.

Laivos de loucura, momentos de completo desinteresse pelo próximo... um corpo que se contorce e rebenta num grito de fúria contida num corpo que tudo encaixou pacíficamente à vista dos outros, mas que por dentro tremia de angústia e revolta, e que nesse momento tudo destruiu, tudo manchou de negro, deixando apenas um corpo murcho, vazio e triste...quem diria que aquele corpo que tão alegremente viam como um modelo, explodia num ser de olhos furiosos embebidos em veias quentes e projectantes...

...outras vezes, corpos altivos e fortes, quando esburacados deixam antever um mar de lágrimas e tristezas contidas, que escorregam como fios de água outrora vibrantes de luz, mas que com o tempo e vivências se foram mutando e se solidificaram numa pasta viscosa e infeliz que solta sons de choro...ouve-se aquele choro interrompido que nos deixa sem ar, que não conseguimos controlar e que só alguns podem ouvir...
...e esses, que ouvem o choro dos corpos tristes, que bons que são, que impotentes são, que infelizes por decobrirem que afinal aquele corpo que adoraram é igual aos outros, é tão infeliz como os outros e guarda tanta mágoa...

E depois há os corpos Felizes por dentro e por fora, completos...quantos serão?

Que bom seria poder transformar todas as nuvens de dúvida, que percorrem os pensamentos, em sons de música alegre e palpitante... Queimem-nos os pés as notas de alegria que nos obrigam a dançar, abafem-nos no coração os sons da vida que corre ligeira, cole-se à pele o brilho do Sol e da Lua que com seus susurros nocturnos nos embala e nos permite respousar a cabeça em sonhos que esperamos que um dia se tornem realidade...Sejamos nós o Seres que queremos ser, sem nos deixarmos limitar pelo que nos rodeia, mas retirando ao que nos rodeia a pureza com que nos queremos preencher e tornando-nos felizes por não sermos mais do que aquilo que somos...


Titi seguiu pelo caminho escolhido, as pernas ainda hesitantes, a caixinha ainda pesada, mas a sua vontade de seguir prevaleceu, e eu vi-a partir de cabeça erguida pelo caminho que se abria à sua frente...quem a visse pensaria que já não tinha dúvidas e que as pernas já não hesitavam...

quarta-feira, janeiro 28, 2009

...o caminho...

É dificil perceber-se o que se quer...muitas vezes complexo saber-se até que se está perdido...

Ser complexo, Titi, percorre o mundo levada pela Brisa...sempre o fez, chegando até ao ponto de se esquecer de como se anda.

Olhava para trás e sempre conseguiu sorrir de contente e realizada pelos percursos que tinha feito! Invejada pela sua brisa e pela liberdade que adquiriu sem ter de conquistar, nunca sentiu a vida como se de um obstáculo se tratásse, mas sim como uma aventura, uma floresta por desbravar...Vestida de força e empunhando a coragem seguiu sempre o rumo que a Brisa apontava, sem hesitações nem complicações. Era simples, bastava seguir!

À poucos dias encontrei Titi... estava sentada à beira da estrada, pernas cruzadas, com a sua caixinha no colo, e a olhar para o ombro...olhava a Brisa como quem não percebe o que diz...

Perguntei-lhe quem era e disse-me que me ia contar quem eu era...
Continuou a conversa tentando explicar-me o que se passava, e porque a tinha encontrado ali:

- Estou aqui sentada porque está na altura de parar...
- Parar porquê?
- Não sei...sinto que sim...a Brisa puxa-me o ombro, mas a caixa que trago passou a pesar muito, tornou-se num peso que não me deixa voar, e que não sei explicar...sei apenas que tenho de parar...nunca a caixinha pesou assim...e depois parece que se reflecte em mim, no meu corpo...nas minhas pernas...
- Pesa em ti??
- Siimm, não sei explicar...pesa...pesa nas pernas...
Tudo começou quando me aproximei desta estrada...achei-a perfeita, o caminho perfeito para fazer...falei com a Brisa e ela disse-me que sim, que estava na hora de se deixar guiar por mim...e a caixinha vibrou como se fosse o passo certo...
Parámos, mas dou por mim sem me aguentar nas pernas. Não percebo...tão livre e tão limitada.
Nada me prende, e eu quero avançar, mas as pernas não me obedecem, parecem ter vida própria e recusam-se a partir. Ainda lhes perguntei porque não me obedecem, mas disseram-me apenas que não conseguem avançar...
- Então mas se tudo indica que está na hora de seres tu a apontar o caminho porque se negam as pernas?
- Pois...perguntei o mesmo à Brisa que me acompanha...ela diz-me que está comigo, e que quando eu quiser partir, que me leva...mas eu tinha-lhe dito que desta vez era eu que a guiava, e gostava de cumprir a minha palavra, afinal não tenho medo de o fazer, nada me impede...porquê que não me obedecem as pernas?
Já lhes disse que não quero parar, que temos de seguir viagem, traçar a nossa rota com pegadas na estrada, sem receio das pequenas pedras que me furam os pés...
- Pernas, porque não obedecem voçês?

As pernas ficaram imóveis por uns tempos, depois, levantaram-se...vi Titi erguer-se sem esforço, e pouco depois começou a desenhar com os pés palavras na terra solta da estrada, e ali estava a resposta das pernas...estavam com dúvidas...nunca tiveram de conduzir ninguém, era sempre a Brisa que as leváva, não sabiam se conseguiam andar e muito menos se o caminho que apontava Titi seria seguro para elas...tinham dúvidas e não queriam andar perdidas, magoar-se nas pedras do caminho e andar sem um apoio, algum sustento que as amparasse quando se desiquilibrássem...

-Òh amigas pernas, - dizia Titi - Então não vêm que eu vos guio e não vos deixarei tropeçar!

Então no chão foram desenhadas as palavras..."e quando tu não tiveres onde te agarrar e cairmos de joelhos no chão...quando não souberes que caminho seguir ou te sentires perdida? como vais tu conseguir perceber e reconhecer que estás perdida...como vais tu ceder e conseguir perceber os sinais se tu nunca tiveste de os ler...se nunca os aprendeste a ler? Como podemos confiar em ti que não te lembras sequer como se anda, se não sabes sequer onde esta estrada vai dar ou porque viéste aqui parar?"

terça-feira, janeiro 27, 2009

quem conta um conto retira sempre pontos...

-olá!
-Olááá!!
-Quem és tu?
-Eu!?...eu sou tu...e tu, quem és?
-Eu...eu sou tu...Titi.
-Titi...Titi!??!
-Sim...Titi...não sabes que no mundo da imaginação tudo é válido?
-Siim?? Mas porquê Titi? Só falta dizeres que vens da Titilândia...
-Lindo! Já começas a perceber como tudo começa!
-Ok...desisto...conta-me só...

-Titi...simplesmente Titi... Titi de brisa ao ombro...
Quando o céu me concebeu depositou em mim uma luz, um brilho que se escondeu dentro de mim. Titi foi o nome que surgiu, e eu aceitei!

-Mas Titi!?!? Não havia nada melhor?
Na verdade eu já ouvi falar de ti, és aquelas que se deixa levar pela liberdade e vôa sem saber bem para onde e sem querer saber...

-Epá isso assim é muito volátil e triste...eu vou-te contar quem sou...

Tenho uma brisa de vento no ombro...e uma caixa na mão...a brisa é quem me guia...um dia apercebi-me que ali estava, e era tão suave o seu surrurrar, tão encantado que me deixei levar, e quando me apercebi já os meus pés não tocavam no chão...e era tão leve...
Viver a flutuar, ao sabor da brisa, sem olhar para trás nem pensar para onde vais... é saberes-te acompanhada e sem medo do futuro, pois basta fechar os olhos e dizer, eu quero ir, e lá vais tu...

Na mão, a minha caixa...nela guardo um pouco de todos os locais por onde passei...quando a abro criam-se à minha frente imagens do que vivi, pessoas, nomes, passeios, flores e tempestades... cada imagem uma história, cada vulto uma memória...não a abro muito...

-Titi...quem te ouve parece que está perante um conto...

-E assim é...sou a personagem que te vai contar quem és...

segunda-feira, janeiro 26, 2009

vendaval perdido

O tempo passa e as vontades vão e vêm...
Afinal ainda vivo...já se sabe que o vento esconde-se por um tempo e depois reaparece...
Pode ser uma brisa, um vendaval, ou um furacão...

Hoje sou vendaval!

Folhas remoínham em meu redor, brinco com elas...fazem-me sentir viva e toldam-me a vista fazendo-me tropeçar nos estranhos obstáculos à minha frente que não vejo...Bailo, bailo, sinto a energia que me move e agita tudo em seu redor

...oiço o som do meu cantar...que estranho me soa, que rouco e abafado...não admira que não o percebam pois parece o estilhaçar de vidro que parto com a força com que bato às janelas...e no entanto só queria espreitar por elas...ver o brilho que esconde a casa que fecham...

O vento que sou quer voar, quer aprender, quer encantar...quer desaparecer, ir , ir e não parar...
...para onde não sei...sei apenas que esteve tanto tempo contido numa brisa que agora não sabe o que fazer com a liberdade de poder voar!

Querer e poder voar não basta...é preciso saber voar...

...conta-me passarinho quem te ensinou a voar?