domingo, março 27, 2011

Na companhia da minha solidão

A solidão tem destas coisas...
É nestes momentos que nos damos conta do que realmente sentimos, do que gostamos, do que queremos, e até conseguimos superar as nossas expectativas ao descobrir do que somos capazes.
Os momentos em que conseguimos estar realmente a sós são de facto uma benção para a nossa sanidade. É necessário termos o nosso espaço e a nossa identidade livre para ser explorada.

Quando era nova não sabia que precisava disto. Sabia que precisava de voar, de conhecer, de aprender, de errar e de sentir...acima de tudo sentir.
Mas a vida vai-nos levando por onde quer, mesmo que achemos que somos donos do nosso destino e que fazemos dele o que queremos...na verdade não fazemos.

Somos dependentes de muita coisa. Dinheiro, saúde, família, sentimentos...tudo isto nos controla, nos domina. Achamos que somos racionais e se soubermos bem dar a volta havemos sempre de conseguir o que ambicionamos.
Eu acredito que conseguiremos o que ambicionamos sempre, mas as nossas ambições mudam...consoante o nosso dinheiro, saúde, familia...sentimentos...
A solidão obriga-nos ao confronto com as nossas possibilidades e impossibilidades.
A solidão pode-nos oprimir ou até libertar...depende bastante de tudo o que referi acima e talvez até de mais coisas.

Hoje estou sozinha.
Consegui até ficar sozinha em casa!! Quem diria...depois de tanto tempo!
Hoje estou feliz. Consegui ter o meu silêncio nem que seja apenas por este dia e meio. Consegui de novo ser dona do meu tempo e das minhas vontades.
Está na hora de ligar a musica, sentar-me naquela mesa e ocupar as mãos para desocupar a mente que está tão carregada de ideias que ainda não consegui passar para a realidade.

Hoje é o dia.
Agora é o momento...
...o momento em que transformo o tempo e o espaço exactamente naquilo que quero e que me satisfaz.

terça-feira, março 22, 2011

Dores inesquecíveis

As coisas são mesmo assim.

A morte, a ausência, a solidão...são momentos que nos marcam sempre mais do que qualquer momento de alegria, êxtase ou paixão.

Um momento de alegria, ás vezes causado por coisas muito desejadas não consegue superar os momentos em que o nosso coração aperta. Um sorriso não absorve a dor da ausência, um beijo não compensa a ausência causada pela morte, e uma palavra, embora quebre, não acaba com a solidão. Tudo o que nos entristece fica guardado por muito mais tempo. Fica a matar por dentro, a corroer como um parasita... Há que matar o parasita e transformar as nossas dores e momentos tristes naquilo que nos faz melhor ... A alegria!

Para ti, meu doce amigo...um beijo carregado de alegria e amor para te aliviar a dor.
(Viste?!!?! Fiz uma rima!!)

PS: Gosti :)

sábado, março 12, 2011

No barulho das luzes os olhos fecham e os sentidos acordam

Finalmente consegui matar as minhas saudades de uma boa noitada.

Fomos parar a um lugar escuro, pequeno, e com o cheiro flutuante de chicha. Sabem aquele cheiro a fumo branco com sabores que se entranha nos nossos pulmões quando inspiramos o fumo da chicha? Era ssim que o ar estava naquele pequeno espaço escuro em que nos fomos enfiar.
Ninguém sabia bem onde nos metíamos, mas diziam que era um lugar onde, sem prometer nada, nos poderíamos surpreender! E assim foi.

No início soube-me a saudade. Recordei as noites lisboetas onde para terminar em grande nos enfiámos tantas vezes em lugares idênticos áquele, e onde, sem uma palavra e ao som de muita música, cada um se exprimia e libertava as suas vontades de tristeza, alegria ou até romance.

O ambiente era bom, mas as pessoas eram diferentes dos lugares onde fui tantas vezes.

Eles eram dois. O 1 e o 2 que resultavam num total de dois bonitões vestidos de preto. Amigos pensei eu, embora com algumas reservas. Quando dei por ela havia um 3 próximo. Pareceu-me que se queria fazer amigo deles mas afinal acabou em pouco tempo a dar beijos intensos ao 1. O 3 afastou-se lentamente. Regressou. Chegou-se a eles, ora de costas, ora de frente, meio perdido, sozinho. Nem o boné que leváva conseguia esconder a sua busca por companhia.

Atrás de mim, pertinho da parede estava o "A" e o "B". O "A" era bonito e de meia estatura. Permaneceu a noite toda docemente enlaçado num beijo longo com o "B". Os braços de "B" tinham uma pele suave e morena que se deixavam revelar por uma meia-cava branca. Tinha uma barbinha rala, e com as ajuda das mãos escondia no seu rosto de olhos fechados, o sentimento que deles os dois emanava.

À frente dei de caras com o "X" e o "Y". Com um sorriso puxado na boca que mantinha fechada, "Y" apontava o rosto para cima e não conseguia deixar de mostrar a satisfação que sentia em ter "X" ali, de costas para ele, a subir e a descer o seu corpo de encontro ao dele. Não foi surpresa encontrá-los mais tarde próximo do espelho escuro, dando beijos carregados da satisfação que se tem quando se saboreia finalmente um fruto à muito tempo desejado.

Foi então, que no meio da confusão de pessoas pareceu ele. Ou melhor, eles! Ele era pequeno, roliço e escondia-se numa t-shirt "oversized" branca que lhe chegava quase ao joelho e apenas revelava uma parte dos calções de ganga que chegavam até meio da canela. Estava de havaianas. No rosto escondia uma covinha do lado direito que ficava visivel nos poucos momentos que o vi sorrir. Tinha um ar de duende que era reforçado pela barbicha em bico que lhe pendia do queixo. Estava envolto numa núvem de silêncio e alheamento do espaço onde estava. Ela, sorridente, encostava o rosto ao dele, e, de narizes juntos trocavam palavras intercaladas por beijos esporádicos e alegres. Era mais alta que ele mas isso só o tornava mais doce aos meus olhos.

E ali estava eu, aos saltos, dançando no meio de amigos e desconhecidos que preencheram o meu mundo por umas horas. E o pouco tempo que ali estive, não consegui parar de sorrir, e de me sentir isolada mas tão acompanhada, porque afinal estava no lugar onde até os mais tristes e solitários encontram o conforto para as suas almas...mesmo que apenas por umas horas, mesmo que das maneiras mais estranhas e promíscuas...mas afinal, todos somos iguais, todos precisamos de sentir uma mão quente percorrer-nos o rosto de vez em quando, um beijo ardente queimar-nos os lábios dormentes, ou até mesmo o fogo do corpo a acordar porque por uns breves instantes o mais improvável dos fósforos nos acendeu a chama que tantas vezes esquecemos que existe em nós ou que simplesmente aceitámos que se mantivésse apagada em prol da moral e dos bons costumes...

sexta-feira, março 11, 2011

A grandiosidade da nossa pequenez

Foi no chamada "ônibus" que me lembrei dele.
Há quanto tempo já não o vejo? 2, 3 anos? Sim, talvez uns 3.

Os meus pensamentos escorreram até ele quando me debruçava sobre o nosso último e mais recente contacto. As palavras frias e existentes quase só por educação são a única coisa que hoje trocamos. E só pelos aniversários! Quase como se fôsse para que não fique no ar a sombra de uma ausência mal educada e desinteressada. Não depois de tudo o que vivemos. Foi muito tempo, iria parecer mal!!

E hoje eu pergunto:
Como é que as pessoas conseguem pôr de lado anos de convivência, luta, amor e crescimento em tão pouco tempo, e nem sequer se ressentirem da ausência do outro?
Como é possível que os vários anos, meses e meses de convivência se percam no silêncio da ausência total e desinteressada?
Como é possível que sejamos capazes de substituir sem dó nem piedade os momentos doces, alegres ou mesmo os maus, pela completa ausência, como se essa pessoa nunca nos tivésse sido importante? Como se os anos não tivéssem deixado marcas, como se o correcto fôsse esquecer o passado e viver o presente, porque o presente é sempre mais apelativo, mais surpreendente e misterioso...E depois até se chegar ao cansaço que leva à separação, ainda há muitos bons anos para viver, mas...e depois? É assim? Tem mesmo de ser assim?

Lembrei-me dele porque nunca percebi como fomos capazes de chegar a este ponto. Será que se lembra de mim? Não digo lembrar de sentir saudades, mas lembrar-se simplesmente, tal como eu o faço por um motivo ou outro que me leva às minhas experiências anteriores? Será que é possível que nunca tenha vontade de saber como estou, se eu, apesar de tudo, ainda tenho curiosidade por saber dele?

Os anos passam e tudo acalma. E o Ser Humano a tudo se adapta, mas não posso deixar que passe despercebida a minha falta de compreensão para a indiferença a que somos capazes de nos entregar, sem esforço algum, a um incontável número de coisas e situações e pessoas...

Somos de facto grandiosos como Seres... mas conseguimos ser tão pequenos nos nossos sentimentos!

sábado, março 05, 2011

Dromedário esvoaçante

E então ela sentou-se. Preparou o caderno e escreveu.

Despejou ali tudo o que sentia e ao mesmo tempo nada dela saiu. Tudo continuou guardado, tudo continuou em silêncio, porque o som que dela saia não era audível senão para aqueles que não podem falar.

Escreveu...escreveu...escreveu...falou com tudo, com todos, sussurrou, gritou, e no entanto nada, mas mesmo nada saiu.
Continua a navegar nas suas palavras, sozinha, como um marinheiro perdido na imensidão do mar.
Continua a carregar o peso de tudo o que transporta nas costas, como um dromedário cheio de reservas mas que morre de sede. Dromedário sim...apenas uma bossa, porque uma basta para guardar tudo de tão comprimido que está, de tão guardadinho e encaixadinho. É cuidadosa até no modo como conserva aquilo que a sufoca, porque quem sabe se assim apertadinho sufoca menos, porque quem sabe se assim escondidinho ninguém nota o peso que ás vezes lhe verga a coluna que todos vêem tão direitinha.

Não se queixa do peso, afinal, foi ela que o guardou ali.
Há quem o deite fora. Ela, pelo contrário,conserva tudo como quem não conserva nada.

No outro dia cruzei-me com ela no autocarro.

Naquele dia consegui ver-lhe a bossa que disfraçava sorrindo e descrevendo imagens coloridas que me enchiam os olhos.
Naquele dia, quando a vi afastar-se percebi que até os pássaros ás vezes descem à terra para transportar os seus fardos disfarçados de liberdade.