quarta-feira, janeiro 20, 2010

mudar de rota!

Por mais que lhe tenha já dito que não posso ir carregada e que o número de peças de roupa que posso levar é limitado, acabo sempre por me ver nas lojas, diante de mil e uma coisas que ela gostaria que eu comprásse, e vezes sem conta me vejo com a preocupação de não saber como lhe dizer que não levo por não querer, mas por achar um desperdício o investimento que quer fazer em mim se depois não posso levar comigo...
Sei perfeitamente que tem gosto em me comprar as coisas que já não tem prazer em comprar para si, mesmo que depois se esqueça e acabe por elogiar as coisas que trazemos sem se aperceber que foi ela mesma que nos deu...A idade não perdoa, e ela transformou-se num daqueles Seres que o tempo deixou marinar para trazer ao de cimo tudo o que de melhor e complicado têm as avós.

Moderníssima, a consultar a caixa de entrada das mensagens do telemóvel para onde a minha irmã garantiu ter enviado a resposta que esperava...é o meu orgulho...matriarca e terror da família! Adoro-a!

Sabe que não sei se volto tão cedo e preocupa-se em garantir que não me apercebo do medo que carrega consigo...e eu precupo-me em garantir que não lhe passo as preocupações que tenho cada vez mais...Faço contas ao dinheiro para ver se chega, analiso as possibilidades de modo a garantir que não vou ter de depender do dinheiro de ninguém para pagar a casa que deixo para trás...ou o vôo de regresso...ou deixar preocupações com as pessoas que ficam encarregues do que deixo para trás, ou o que quer que seja...e questiono-me mais uma vez..cada vez mais nos últimos dias...porquê que vou? Ultimamente cada vez tenho menos certezas daquilo que ainda à um mês atrás afirmava fazer sentido e ser a razão que me guiava e perante a qual me curvava sem hesitar.

Decorridos três longos e ao mesmo tempo rápidos anos consegui a proeza de virar o meu mundo ao contrário, e agora que encontro um qualquer tipo de estabilidade, de rotina, e que tenho aquilo a que posso chamar "Home" está na hora de me despedir de tudo e virar as costas em direcção a um desconhecido, ao recomeço, à reconstrução de tudo novamente. Procuro acreditar nos sons que sussurram que não haverá problema, pois tudo estará cá quando regressar, mas sei que nada permanecerá igual...os amigos vão mudar as rotinas que agora conheço, alguns irão casar, outros ter filhos, outros deixar de sair e outros mudar até de rumo e quem sabe já cá não estar quando eu regressar... a família seguirá o seu rumo, unir-se-à e tornará mais uma vez a não contar comigo...e o meu coração adocicado voltará a ser apenas uma máquina que garante a minha sobrevivência... as pessoas passarão a ser vozes que oiço ao longe...

Hoje senti mais uma vez que estou a chegar ao fim, e que vou ter de deixar tudo o que construí, e que a partir desse dia já não vou ver as mesmas caras, já não vou poder falar do mesmo modo com aqueles que hoje me escutam e que um dia quando regressar vou ter uma nova realidade, diferente daquela que deixo e que neste momento tenho muita, mas mesmo muita pena de largar em troca desse vazio cheio de aventuras e paisagens e desconhecido... se tivésse de tomar a decisão neste momento, acho que a tomava novamente, mas precisava de tempo para poder gozar um pouco mais da paz que aqui encontrei finalmente no fim deste ano que passou.

Sinto-me como um animal, que encontrou um abrigo e uma cama após um longo percurso de obstáculos, e que quando finalmente conseguiu fechar os olhos e se aninhou para descansar, o relógio que trazia ao pescoço soou um alarme, e o abrigo e a cama fofa onde finalmente poderia descansar tinham desaparecido, e ele dá por si de novo de pé, na estrada, com os olhos colados de sono e o corpo ainda cansado e sem energia para seguir...Sinto-me assim, de pé, a olhar para a estrada, e sem forças para dar os passos que ainda tenho de dar até poder descansar... e olho constantemente para trás a tentar perceber porquê que não posso simplesmente descansar...

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