quarta-feira, setembro 08, 2010

O enrolar das correntes

Ás vezes os dias correm e as noites voam e nós nem damos por isso...

Até ao dia em que o correr dos dias e o vôo das noites nos deixa com um nó na garganta...

O nó...
Aquele nó que não conseguimos desatar, aquele nó que já sentimos antes e que traz com ele ameaças de chuva, tormenta e tempestade...
Aquele nó que sabemos que traz com ele o peso que até agora não queríamos sentir...

Hoje foi evidente! O nó não escapou sem que o sentisse!
Tudo me fez borbulhar, tudo me fez retornar no tempo, tudo me fez sentir o que não queria sentir, e foi impossível escapar ao rebentar da corrente que já sabia que viria, mas que adiei por saber que mesmo estando à sua espera, preferia atirar-me de cabeça na onda que me puxou e me enrolou.
Queria afundar-me no fundo do mar, queria sentir o fresco das ondas, a vibração das correntes que vêm de outros mundos e que me arrastavam.
Queria sentir o perfume das flores, por muito intoxicantes que fossem.
Queria inundar-me nesse mundo que por uns tempos não tive, apesar de saber que seria uma ilusão e que o que queria ver na verdade não existia. E fui avisada...sim, sei que o fui, sei que tinham razão, sei que preferi tapar os ouvidos e olhar o céu com olhos de quem só vê estrelas cadentes e cheias de desejos.

Sabia...sim é verdade que sabia com a consciência de quem sabe que o ananás vai amargar naquele cantinho escondido da língua que nunca nos lembramos que está lá até ao momento em que o ácido escondido no doce se revela...

E hoje senti...senti finalmente esse arrepio e mais uma vez socumbi à consciência de quem é obrigado a ver a realidade do que escolheu por deliberada vontade...enrolada nas ondas do destino e das vontades deixei-me levar de olhos fechados, e hoje não pude deixar de os abrir e de admitir que não é suficiente.

Sei que não era o que procurava, mas deixei que a suavidade me acalmásse a pele ardente de vontade e a boca sedenta de saudade...

Deixei, e hoje colho os frutos da minha saudade calada, hoje senti de novo o nó e hoje vou ter de admitir que não é suficiente, nunca o foi, mas sei que o escolhi assim...
Amanhã aqui estarei para sentir a lingua picar de novo...
Amanhã aqui estarei mais uma vez para me enrolar nas ondas e deixar que o corpo aceite a corrente...
Amanhã vou ver se desatei o nó ou se continuo a achar que é insuficiente...

Sem comentários: