quarta-feira, janeiro 28, 2009

...o caminho...

É dificil perceber-se o que se quer...muitas vezes complexo saber-se até que se está perdido...

Ser complexo, Titi, percorre o mundo levada pela Brisa...sempre o fez, chegando até ao ponto de se esquecer de como se anda.

Olhava para trás e sempre conseguiu sorrir de contente e realizada pelos percursos que tinha feito! Invejada pela sua brisa e pela liberdade que adquiriu sem ter de conquistar, nunca sentiu a vida como se de um obstáculo se tratásse, mas sim como uma aventura, uma floresta por desbravar...Vestida de força e empunhando a coragem seguiu sempre o rumo que a Brisa apontava, sem hesitações nem complicações. Era simples, bastava seguir!

À poucos dias encontrei Titi... estava sentada à beira da estrada, pernas cruzadas, com a sua caixinha no colo, e a olhar para o ombro...olhava a Brisa como quem não percebe o que diz...

Perguntei-lhe quem era e disse-me que me ia contar quem eu era...
Continuou a conversa tentando explicar-me o que se passava, e porque a tinha encontrado ali:

- Estou aqui sentada porque está na altura de parar...
- Parar porquê?
- Não sei...sinto que sim...a Brisa puxa-me o ombro, mas a caixa que trago passou a pesar muito, tornou-se num peso que não me deixa voar, e que não sei explicar...sei apenas que tenho de parar...nunca a caixinha pesou assim...e depois parece que se reflecte em mim, no meu corpo...nas minhas pernas...
- Pesa em ti??
- Siimm, não sei explicar...pesa...pesa nas pernas...
Tudo começou quando me aproximei desta estrada...achei-a perfeita, o caminho perfeito para fazer...falei com a Brisa e ela disse-me que sim, que estava na hora de se deixar guiar por mim...e a caixinha vibrou como se fosse o passo certo...
Parámos, mas dou por mim sem me aguentar nas pernas. Não percebo...tão livre e tão limitada.
Nada me prende, e eu quero avançar, mas as pernas não me obedecem, parecem ter vida própria e recusam-se a partir. Ainda lhes perguntei porque não me obedecem, mas disseram-me apenas que não conseguem avançar...
- Então mas se tudo indica que está na hora de seres tu a apontar o caminho porque se negam as pernas?
- Pois...perguntei o mesmo à Brisa que me acompanha...ela diz-me que está comigo, e que quando eu quiser partir, que me leva...mas eu tinha-lhe dito que desta vez era eu que a guiava, e gostava de cumprir a minha palavra, afinal não tenho medo de o fazer, nada me impede...porquê que não me obedecem as pernas?
Já lhes disse que não quero parar, que temos de seguir viagem, traçar a nossa rota com pegadas na estrada, sem receio das pequenas pedras que me furam os pés...
- Pernas, porque não obedecem voçês?

As pernas ficaram imóveis por uns tempos, depois, levantaram-se...vi Titi erguer-se sem esforço, e pouco depois começou a desenhar com os pés palavras na terra solta da estrada, e ali estava a resposta das pernas...estavam com dúvidas...nunca tiveram de conduzir ninguém, era sempre a Brisa que as leváva, não sabiam se conseguiam andar e muito menos se o caminho que apontava Titi seria seguro para elas...tinham dúvidas e não queriam andar perdidas, magoar-se nas pedras do caminho e andar sem um apoio, algum sustento que as amparasse quando se desiquilibrássem...

-Òh amigas pernas, - dizia Titi - Então não vêm que eu vos guio e não vos deixarei tropeçar!

Então no chão foram desenhadas as palavras..."e quando tu não tiveres onde te agarrar e cairmos de joelhos no chão...quando não souberes que caminho seguir ou te sentires perdida? como vais tu conseguir perceber e reconhecer que estás perdida...como vais tu ceder e conseguir perceber os sinais se tu nunca tiveste de os ler...se nunca os aprendeste a ler? Como podemos confiar em ti que não te lembras sequer como se anda, se não sabes sequer onde esta estrada vai dar ou porque viéste aqui parar?"

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