sábado, março 12, 2011

No barulho das luzes os olhos fecham e os sentidos acordam

Finalmente consegui matar as minhas saudades de uma boa noitada.

Fomos parar a um lugar escuro, pequeno, e com o cheiro flutuante de chicha. Sabem aquele cheiro a fumo branco com sabores que se entranha nos nossos pulmões quando inspiramos o fumo da chicha? Era ssim que o ar estava naquele pequeno espaço escuro em que nos fomos enfiar.
Ninguém sabia bem onde nos metíamos, mas diziam que era um lugar onde, sem prometer nada, nos poderíamos surpreender! E assim foi.

No início soube-me a saudade. Recordei as noites lisboetas onde para terminar em grande nos enfiámos tantas vezes em lugares idênticos áquele, e onde, sem uma palavra e ao som de muita música, cada um se exprimia e libertava as suas vontades de tristeza, alegria ou até romance.

O ambiente era bom, mas as pessoas eram diferentes dos lugares onde fui tantas vezes.

Eles eram dois. O 1 e o 2 que resultavam num total de dois bonitões vestidos de preto. Amigos pensei eu, embora com algumas reservas. Quando dei por ela havia um 3 próximo. Pareceu-me que se queria fazer amigo deles mas afinal acabou em pouco tempo a dar beijos intensos ao 1. O 3 afastou-se lentamente. Regressou. Chegou-se a eles, ora de costas, ora de frente, meio perdido, sozinho. Nem o boné que leváva conseguia esconder a sua busca por companhia.

Atrás de mim, pertinho da parede estava o "A" e o "B". O "A" era bonito e de meia estatura. Permaneceu a noite toda docemente enlaçado num beijo longo com o "B". Os braços de "B" tinham uma pele suave e morena que se deixavam revelar por uma meia-cava branca. Tinha uma barbinha rala, e com as ajuda das mãos escondia no seu rosto de olhos fechados, o sentimento que deles os dois emanava.

À frente dei de caras com o "X" e o "Y". Com um sorriso puxado na boca que mantinha fechada, "Y" apontava o rosto para cima e não conseguia deixar de mostrar a satisfação que sentia em ter "X" ali, de costas para ele, a subir e a descer o seu corpo de encontro ao dele. Não foi surpresa encontrá-los mais tarde próximo do espelho escuro, dando beijos carregados da satisfação que se tem quando se saboreia finalmente um fruto à muito tempo desejado.

Foi então, que no meio da confusão de pessoas pareceu ele. Ou melhor, eles! Ele era pequeno, roliço e escondia-se numa t-shirt "oversized" branca que lhe chegava quase ao joelho e apenas revelava uma parte dos calções de ganga que chegavam até meio da canela. Estava de havaianas. No rosto escondia uma covinha do lado direito que ficava visivel nos poucos momentos que o vi sorrir. Tinha um ar de duende que era reforçado pela barbicha em bico que lhe pendia do queixo. Estava envolto numa núvem de silêncio e alheamento do espaço onde estava. Ela, sorridente, encostava o rosto ao dele, e, de narizes juntos trocavam palavras intercaladas por beijos esporádicos e alegres. Era mais alta que ele mas isso só o tornava mais doce aos meus olhos.

E ali estava eu, aos saltos, dançando no meio de amigos e desconhecidos que preencheram o meu mundo por umas horas. E o pouco tempo que ali estive, não consegui parar de sorrir, e de me sentir isolada mas tão acompanhada, porque afinal estava no lugar onde até os mais tristes e solitários encontram o conforto para as suas almas...mesmo que apenas por umas horas, mesmo que das maneiras mais estranhas e promíscuas...mas afinal, todos somos iguais, todos precisamos de sentir uma mão quente percorrer-nos o rosto de vez em quando, um beijo ardente queimar-nos os lábios dormentes, ou até mesmo o fogo do corpo a acordar porque por uns breves instantes o mais improvável dos fósforos nos acendeu a chama que tantas vezes esquecemos que existe em nós ou que simplesmente aceitámos que se mantivésse apagada em prol da moral e dos bons costumes...

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