quinta-feira, dezembro 31, 2009

A andorinha e o cebolinho

Ela tinha destas coisas...andorinha negra e luzidia, sempre gostou de voar e razar os campos em busca de aventuras.

Um dia passou perto de um campo de cebolas frescas e verdejantes...nunca gostou de cebolas, e no entanto naquele dia ali estava ver que novidades havia.
Nada de novo encontrou até ao momento em que resolveu pousar numa pedra e sacudir as penas. Naturalmente começou a cantar pelo prazer de se sentir livre dos pequenos pós que se lhe tinham acumulado nas penas e que carregou consigo durante uns tempos. Aquela limpeza deixou-a mais leve.

A leveza era tanta que sentiu vontade de libertar a alma e cantou...Quando se virou deu com uns olhos verdes muito abertos que a observavam sem se mover. Aproximou-se...o cebolinho ali estava, onde sempre esteve, agarrado à terra, emando o seu aroma e indagando que ave seria aquela que apenas vira ao longe voando no céu. Já tinha visto aves migratórias, a sua inconstância e permanente vontade de seguir voando para paises que nunca tinha visto davam-lhe alguma curiosidade. Invejava-lhes a liberdade e no entanto nunca a tinha desejado verdadeiramente. Sentia-se feliz consigo, com a sua realidade, sempre estável e era agradecido à terra que o acolhia e lhe permitia usufruir daquele cantinho. Houve tempos em que se tinha deixado encantar por uma cegonha, mais do que qualquer Ser da terra se deveria deixar encantar por Seres do ar e no entanto assim tinha sido!

A andorinha olhou-o com curiosidade, o seu verde era quase fluorescente, o seu aroma enebriante, e embora não fôsse bonito, viu nele um brilho que não via nas cebolas que tinha sobrevoado...era uma cebola pequena, e no entanto tão esguia e altiva.
Os olhos do cebolinho não se desviaram e a andorinha sentiu necessidade de se aproximar...roçou-lhe as folhas com a pequena cabeça e pescoço...fechou os olhos e sentiu o aroma, rodou em volta dele sem saber muito bem porque o fazia, mas quanto mais o fazia mais vontade tinha de continuar. Fechou os olhos e acreditou que voava com ele, todo o percurso que tinha feito até áquele sacudir de penas fizeram de repente sentido e deu por si entregue ao canto que lhe saía da alma.

Por momentos tudo fez sentido, até que abriu os olhos e viu que o cebolinho não se tinha mexido. Pensou que só ela tinha acreditado que aquele momento perfeito fazia sentido. E como o cebolinho permaneceu calado, apenas observando, a andorinha baixou os olhos, sacudiu as asas e voou...

Sem comentários: